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Pov: Cristo na Ceia

150 x 120 cm
Acrílica sobre tela

Vendido

É Noite. Sentado com seus amigos, Ele sabe o que todos não sabem. Sabe que “chegara a sua hora” (Jo 13,1), sabe que “viera de Deus e a Deus voltava” (Jo 13,3). Sabe que o diabo invadira o coração daquele pobre discípulo. Sabe que aqueles doze, na verdade, ainda não sabem do que tudo aquilo se trata. Qualquer um desmoronaria diante de tamanha solidão incompreendida. Mas Ele, movido por uma força sobrenatural, “levanta-se da mesa e depõe o manto” (Jo 13,4). Começa a lavar os pés dos doze. Mais um escândalo para uma noite de interrogações. Depois, “perturbou-se” (Jo 13,21) e anunciou a traição. Um aponta, o outro – o amado – “reclina-se sobre o seu peito” (Jo 13,25). Ele molha o pão e entrega ao traidor, que recebe aquele ázimo como quem recebe um tiro. Glória instaurada. Tudo agora é um rio que seguirá seu curso natural: a Cruz, a Ressurreição, a Volta, a Revolução.

Contemplo esta cena há mais de 15 anos e ainda não consigo alcançar o tamanho do mistério que se deu naquela noite. Me sinto como os discípulos, confuso, atordoado, incapacitado de compreender tanta coisa condensada num só capítulo do Evangelho. Mas não se trata de compreender, mas de vivenciar. Cada um dos discípulos sou eu mesmo, somos nós. Isso é a contemplação, se colocar nas sandálias de cada personagem, pois de todos temos um pouco. E, na obra e na vida, o Cristo me observa e me ama, aposta, interpele, insiste, me lava, me leva, me constrange, se decepciona e se entrega. Por mim. Não é uma doutrina, nem um dogma. É a existência e a Vida. Sem esta Noite, minha vida seria apenas noite.

Que esta Ceia sem Jesus – e impregnada dEle – nos ajude a entrar na confusão, quando tudo for uma certeza morna; no caos, quando tudo for ordem insossa; no Mistério, quando tudo for rotina previsível; na coragem, quando tudo for incompreensão; na companhia, quando tudo for solidão; no amor até o fim, quando tudo for apenas uma dor que não parece ter fim.