Carregador de Sonhos

“Antes carregava um coração cheio de sonhos. Tudo era belo. Até o feio, até o duro, até o triste. Tudo tinha um ar de mistério. Mas a infância passou logo, quando nunca deveria. E a idade adulta chegou cedo, adiantada. E como uma fruta que amadurece rápido, de doce, se tornou amarga. Hoje carrego uma carroça, cheia de caixas vazias. Os sonhos são para os outros, doces e abundantes. Eu só os carrego e descarrego. Sou somente um carregador. Mas depois de tanto sol, tanto peso e severo calor, descobri uma caixinha, que carrego desde de tenra idade. Um fiapo de desejo. Um pesinho que não me cansa. E quando olhei para dentro dela, dei um risinho de canto: estava cheia de esperança. Esperança não sei de quê, mas está lá. E desde então a carrego com cuidado. Só me basta esperar. E sonhar. E carregar.”

Conversa em forma de conto que tive com esse homem em 2018, em Juazeiro, na Bahia.